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Em entrevista, diretor fala sobre documentário dedicado a Dorival Caymmi
Com uma produção alimentada na permanência do folclore e invejáveis “tranquilidade e poder de concisão” (como pontua Chico Buarque), além de inspiração que deu real pódio para as canções praieiras, o cantor e compositor de Samba da minha terra e Modinha para Gabriela rendeu farto material para o documentário Nas ondas de Dorival Caymmi. Inédito no circuito, o filme é atração na programação do Festival do Rio e ainda da Mostra de SP. O longa tem direção de Locca Faria, há mais de 50 anos entrosado com a musical família Caymmi.
Elementos como cheiros de comidas, paisagens que incluem jangadas e o mar, com o universo que celebrava de lavadeiras a benzedeiras, passando por pescadores, formatam as criações de Caymmi, dono também de clássicos como Você já foi à Bahia?, O bem do mar e, claro, O que é que a baiana tem?. “Ele foi a primeira grande estrela brasileira nos Estados Unidos”, endossa o compositor Sergio Mendes, ao longo do filme.
No “resumo da destilação das letras” (muitas vezes, ao formato de tramas), como diz o musicólogo Ricardo Cravo Albin, Caymmi embalou com a “ginga da conversa” cada composição, que, segundo Caetano Veloso, posiciona o mentor como o ápice da MPB. Sem pretensão, como o biografado mesmo assume, ele arrebanhou incontáveis fãs, entre os quais Villa-Lobos, Elza Soares, Nara Leão, Baden Powell, Ary Barroso e Lindolfo Gaya. Radamés Gnatalli quase o “proibiu de aprender música”, segundo o filme, a fim de preservar o caráter intuitivo do mestre.
Ainda que dono de parâmetros de conhecimento clássico altíssimo, segundo o produtor e crítico musical Nelson Motta, Caymmi abraçava a “grande herança africana”, como detecta Gilberto Gil. “No fundo, o filme é uma homenagem de todos nós”, simplifica ao Correio o diretor Locca Faria, aos 70 anos. Cercado desde o estrondo na Rádio Transmissora por personalidades como Braguinha e Orlando Silva, o cantor baiano (morto em 2008) apostava na “penicada de samba” que encorpou o encontro com Carmen Miranda nos bastidores do filme Banana da terra (1939).
A malemolência, o que ele chamava de “mexidinho”, a vivência marítima, o “inimitável violão” (a que todos referendam) — tudo faz de Caymmi, autor de obras como Eu não tenho onde morar e Oração de Mãe Menininha, especial. Para se ter ideia, na base da “distração”, criou nada menos do que Maracangalha. Longe do foco na “glória ou no dinheiro”, o autor de Só louco, que no documentário, conta da capacidade de rir “sozinho, para dentro”, arrisca fórmulas para “o quente da felicidade”: “Acreditar no feminino das coisas; ter a crença na Bahia e na mulher”.
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